
Os mercados no primeiro semestre
A pandemia mundial verificada no início deste ano trouxe consigo consequências económicas e financeiras um pouco por todo o mundo. As medidas de confinamento impostas pela maioria dos países levaram a que as economias atravessassem um período de estagnação. Deste modo, o volume de negócios de grande parte do tecido empresarial sentiu uma forte quebra, apenas comparável com outras crises económicas que sucederam no passado.
Durante uma primeira fase assistimos a uma queda generalizada dos mercados, pondo fim ao mais longo bull market de que há registo. Esse período de queda durou cerca de um mês, iniciando-se no final do mês de Fevereiro e estendendo-se até ao fim de Março.
A partir desta altura tem-se assistido a uma recuperação progressiva dos mercados acionistas mundiais. Em baixo apresentamos a evolução do índice de referência americano – S&P 500 que confirma esta tendência.

Neste momento podemos afirmar que este índice está muito perto dos níveis pré-crise, materializando assim aquilo que se pode chamar uma recuperação total.
Por outro lado, existem setores de atividade ainda fortemente penalizados, como por exemplo os setores relacionados com o turismo e os transportes. Nestes, apesar de se notar uma recuperação, ainda se encontram longe dos níveis que existiam antes desta crise. No gráfico abaixo, podemos ver a evolução da cotação da American Airlines que demonstra isto mesmo.

Apesar destes sectores se encontrarem a recuperar a um ritmo inferior não necessitam forçosamente de ser encarados como sectores “a vender” antes de ir de férias. Na verdade, estes podem precisamente ser vistos da forma contrária dado que se encontram ainda subvalorizados e consequentemente, o seu potencial de valorização a médio prazo, ser bastante interessante.
Sell in May and Go Away
Se está nos mercados há algum tempo provavelmente já terá ouvido esta expressão. A sua origem deve-se ao facto de historicamente, o período do ano entre Maio e Outubro proporcionar rendimentos significativamente inferiores ao restantes meses do ano.
A verdade é que entre 1950 e 2013, o índice Dow Jones Industrial teve uma valorização média de apenas 0.3% no período de Maio a Outubro, enquanto no restante ano a média de valorização foi de 7.5%. A ausência de uma grande parte dos investidores do mercado (devido a férias) e o menor volume negociado diariamente, podem explicar esta tendência.
Com base neste facto, criou-se então a ideia de que vender os investimentos antes das férias (em Maio) e retomá-los em Outubro, poderia ser uma estratégia com bom resultado ao longo dos anos. Se isso foi efetivamente verdade durante um largo período, a verdade é que dados mais recentes demonstram que este efeito poderá ter desaparecido. No passado recente, entre Maio e Outubro, verificaram-se importantes valorizações no mercado, que teriam sido perdidas se os investidores seguissem a antiga convicção.
Ano | Retorno do S&P500 |
2010 | -0.3% |
2011 | -8.1% |
2012 | +1.0% |
2013 | +10.0% |
2014 | +7.1% |
2015 | -0.3% |
2016 | +2.9% |
2017 | +8.0% |
2018 | +2.4% |
2019 | +3.1% |
Fonte: https://www.investopedia.com/terms/s/sell-in-may-and-go-away.asp
Apesar de ainda não ser possível ter os dados completos referentes a 2020, de Maio a Julho já se constatou uma valorização significativa dos principais índices de referência mundiais do mercado acionista. O S&P 500, por exemplo, que estava nos 2830,71 pontos no início de Maio, encontra-se agora acima dos 3200 pontos, o que corresponde a uma valorização de cerca de 13%. Se um investidor tivesse ido de férias colocando em prática a estratégia “Sell in May and Go Away” teria assim abdicado de uma importante apreciação dos seus investimentos.
Vá de férias descansado
Se resistiu à tentação de abandonar os seus investimentos e liquidar os mesmos no início desta crise, provavelmente a melhor opção é precisamente manter-se assim. Tal como já foi referido, temos vindo a assistir a uma progressiva recuperação global dos mercados financeiros. Como em todas as crises, alguns sectores da economia recuperam mais rapidamente que outros mas podemos dizer que, ainda que a ritmos diferentes, essa recuperação está efetivamente a acontecer.
Crises passadas ensinam-nos que se deve deixar “a poeira assentar” antes de tomar decisões de investimento. Opções tomadas no auge das crises, motivadas por pânicos ou rumores, regra geral, são mais prejudiciais do que simplesmente não fazer nada. Por isso mesmo, e como a crise causada por esta pandemia ainda não se pode considerar resolvida, deixar os seus investimentos tal como estão, talvez seja a atitude mais sensata nestas férias para a maioria dos investidores particulares.
Por um lado, assumir perdas apenas com o objetivo de poder ir de férias sem pensar nos investimentos pode ser uma má decisão pois estamos no decorrer de uma clara recuperação nos mercados financeiros de vários setores. Por outro, mesmo que as suas posições tenham já algum ganho, poderá estar a perder o potencial de valorização que ainda existe no mercado, uma vez que diversos setores se encontram, ainda, subvalorizados.
Aproveite este período do ano para se afastar do ruído existente nos mercados financeiros e descansar. Dedique tempo a outras atividades e quando voltar, provavelmente poderá olhar para o mercado e os seus investimentos de forma mais objetiva e assertiva.