Uma crise inesperada
Desde o ano de 2009, altura em que foi atingido o ponto mais baixo da última crise financeira mundial, que os mercados financeiros têm vindo a ser bastante generosos com os investidores. Apesar de nos últimos anos ter começado a crescer a convicção de que “o mercado não pode subir para sempre” e que “alguma correção terá de acontecer em breve”, a verdade é que ninguém poderia prever o que acabou por acontecer.
Desta vez não esteve relacionado com o colapso do mercado imobiliário (crise financeira de 2008), nem com a sobrevalorização das empresas da área tecnológica (bolha tecnológica de 2000) mas sim com a rápida propagação de um vírus. O coronavírus colocou o mundo em sobressalto, parando grande parte da atividade económica fomentando um clima de receio e medo nos mercados.
Crises históricas nos mercados
A pandemia causada pelo novo coronavírus não é, naturalmente, a primeira perturbação que os mercados enfrentam. Nestas alturas importa olhar para o passado para perceber melhor o que esperar do futuro. Em baixo apresentamos uma tabela com as últimas grandes crises que os mercados mundiais viveram:
Designação | Data | Queda S&P 500 |
2ª Feira Negra | 1987 | 34% |
Bolha Tecnológica | 2000 | 49% |
Crise Financeira 2008 | 2007 | 56% |
Após analisar o comportamento do S&P 500 durante estas crises, é possível concluir que, num momento inicial, estas são normalmente acompanhadas de movimentos fortes de descida. No entanto, todas elas têm uma outra caraterística comum, que é o mercado acabar por recuperar para os níveis antes da respetiva crise. No caso da 2ª Feira Negra essa recuperação ocorreu após 22 meses, enquanto nas duas crises seguintes a mesma sucedeu 48 meses depois.
Mercados em tempo de coronavírus
A crise causada pelo coronavírus está ainda envolta em alguma incerteza, mas os dados históricos expostos acima permitem formular uma noção do que poderá vir a ser o seu desfecho.
Apesar de ainda ser difícil quantificar a dimensão das quedas, é relativamente seguro afirmar que, mais tarde ou mais cedo, haverá uma recuperação. Assim, os investidores particulares, com horizontes temporais de investimento de longo prazo, devem abstrair-se do ruído temporário atualmente existente nos mercados.
Muitas vezes uma crise financeira é acompanhada por períodos de contração económica, situação que deverá acontecer também desta vez. O abrandamento da atividade económica de diversos sectores acabará por ter consequências na faturação anual das empresas. No entanto, é seguro afirmar que esta situação deverá ser temporária pois o retomar de funcionamento das indústrias e empresas permitirá que o seu volume de negócios volte a estabilizar e aproximar-se daquilo que era antes da pandemia do coronavírus.
Proteger os meus investimentos do COVID-19
O melhor conselho que se pode dar aos investidores particulares em momentos de grande volatilidade nos mercados é: Pense a longo prazo. Deverá abstrair-se do pânico atualmente existente nos mercados. Deixar os seus investimentos tal como estão poderá ser a decisão mais sensata. Esta tarefa pode ser bastante mais complicada do que parece, pois não é fácil ver os investimentos a desvalorizarem dia após dia, com os noticiários cheios de notícias dramáticas relacionadas com o mundo financeiro. No entanto, a história ensina-nos que mais tarde ou mais cedo todas as crises acabam por passar e as perdas causadas podem ser recuperadas.
Oportunidades de investimento
Invariavelmente as crises financeiras trazem consigo oportunidades de investimento. As desvalorizações acentuadas de diversos ativos fazem com que surjam preços reduzidos para ativos de qualidade, como sendo participações em empresas de referência de determinadas áreas.
No topo dos sectores de atividade mais penalizados pelas recentes quedas nos mercados financeiros encontramos o setor energético e as viagens/lazer. Estes são dois setores fortemente influenciados pelas medidas de confinamento impostas um pouco por todo o mundo. No quadro abaixo podemos ver dois exemplos de ativos relacionados com estas áreas de atividade:
Nome do ativo | Tipo | Performance desde o início do ano |
Energy Select Sector SPDR Fund (XLE) | ETF que reúne empresas relacionadas com o setor energético | -41% |
U.S. Global Jets ETF (JETS) | ETF que comtempla um leque de companhias de aviação | -53% |
O abrandamento das indústrias e de toda a atividade económica no geral leva a que as necessidades energéticas sofram uma queda acentuada. Neste setor assiste-se agora a uma oferta muito maior do que procura, o que constitui o ingrediente essencial para quedas acentuadas. Exemplo disso foi preço do petróleo negativo, que ocorreu esta semana.
Por outro lado, o receio de propagação do coronavírus tem levado a medidas de confinamento que originam profundas restrições nos voos e outros meios de transporte, o que faz com que o setor do turismo esteja a ter uma forte quebra.
Os motivos expostos acima para a desvalorização de dois setores de atividade deverão ser de caráter temporário. Será de esperar que uma recuperação acabe por ocorrer quando a situação relativa ao coronavírus se vier a normalizar. Assim, temos dois exemplos de áreas que poderão merecer a sua atenção caso pretenda adicionar novos ativos à sua carteira de investimentos.
Conclusão
Em tempos de instabilidade nos mercados financeiros, o pânico generalizado é habitual pois não parece haver fim à vista e as perspetivas de futuro são negras. No entanto, a história ensina-nos que todas as crises financeiras são seguidas de uma recuperação. Pode demorar mais ou menos tempo, mas esta crise provocada pelo coronavírus acabará por ser resolvida e haverá condições para que os ativos retomem as valorizações anteriores.
A maior parte das vezes, a melhor estratégia para lidar com crises financeiras é simplesmente não fazer nenhum resgate, deixando os atuais investimentos tal como estão. Poderá apenas olhar para esta situação como uma oportunidade para adicionar novos investimentos à sua carteira, mantendo os que já lá se encontram.